Parece a primeira vista um quadro saído de uma galeria de arte moderna. A imagem, toda geométrica e harmoniosa, transmite uma sensação de sentido íntimo preciso. E talvez seja isso mesmo. Esta (como a fotografia mostra) é face a três dimensões, pela primeira vez reve- lada, da estrutura de uma proteína responsável pelo armazena- mento do ferro no interior de uma célula bacteriana. É também o resultado de urn trabalho de cinco anos de urn grupo de investigadores do Instituto de Tecnologia Química e Biológica (ITQB), em Oeiras, publicado na Nature Structural Bio logy.
As proteínas que armazenam o ferro, as chamadas ferritinas, «são vitais e omnipresentes nos sistemas vivos», explica Miguel Teixeira, coordenador do grupo de bioquímca e espectroscopia de metaloproteínas do ITQB e um dos co-autotes do artigo.
A revelação, pelos investiga dores Portugueses, da estrutura da ferritina de um microorganismo chamado Desulfovibrio de- sulfuricans, uma bactéria anaeró bia (vive na ausência de oxigénio), abre novas portas à investigação em áreas tão importantes como a saúde ou a farmacologia. Sobretudo porque, além da estrutura da ferritina, o grupo de Oeiras conseguiu identificar também o mecanismo - e segui-lo passo a passo através do qual o ferro é incorporado pela própria proteína, onde ficará em armazém.
A novidade do trabalho é também essa. «Identificámos um no va caminho através do qual se desenrola este processo de armazenamento celular do ferro», diz Maria Arménia Carrondo, responsável pelo grupo de cristalografia de raios X do instituto de Oeiras e também co-autora (com outros nove investigadores) do artigo agora publicado.
O armazenamento do ferro em proteínas específicas pelos organismos vivos tern uma dupla função. Por um lado mantém disponível uma reserva daquele elemento essencial à vida. Por outro, evita a sua toxicidade para a própria célula, uma vez que o ferro lhe seria nocivo se se encontrasse completamente livre no seu interior, Tal como explicam os autores do artigo, o estudo desta proteína bacteriana, que em termos de propriedades é muito semelhante à ferritina humana, pode vir a ser extremamente útil no estudo de doenças humanas relacionadas com o metabolismo do ferro, como é o caso da anemia.
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